UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara
  Agenda Pós-Graduação - Lingüística e Língua Portuguesa

Aluno(a) Rafael Marcurio da Col
Titulo As resistências em filmes brasileiros sobre a ditadura civil-militar (1979 – 2021): o método arqueogenealógico na análise de discursos audiovisuais
Orientador(a) Profa. Dra. Maria do Rosário de Fátima Valencise Gregolin
Data 31/05/2022
Resumo O cinema brasileiro foi e é palco para inúmeras manifestações artísticas, por ser um espaço real
que tem a possibilidade de se abrir para outros, pois é uma heterotopia (FOUCAULT, 1967).
Este espaço é composto de imagens, sons e movimentos, e isto o possibilita reconstruir
memórias, que estavam espalhadas pela dinamicidade da vida contemporânea. Ao reorganizar
essas lembranças, o cinema se coloca em um espaço de recodificação das memórias, em
específico, quando são filmes que tocam em momentos de crises da sociedade brasileira, como
é o caso da ditadura civil-militar. Com isso, o cinema se resguarda como o lugar de resistência
e de (re)contar as memórias que foram, por 21 anos, proibidas. Deste modo, objetivamos com
esta tese compreender o cinema brasileiro como um lugar de memória (NORA, 1993), onde as
resistências à ditadura se refugiam e se reconstroem, percebendo, com isso, os jogos e as
estratégias de funcionamento (lembranças e esquecimentos) desta materialidade. Para cumprir
com este objetivo principal, somos levados a: analisar o cinema em sua materialidade e
reconfigurações das memórias sobre a ditadura; cartografar as formas de resistências à ditadura
que emergem no cinema brasileiro; entender as posições que o sujeito revolucionário deve
exercer para compor a resistência. Nosso corpus de estudos é constituído de filmes que tratam
da resistência à ditadura como tema principal e são divididos pelas formas como abordam as
memórias, por uma questão metodológica. Isto posto, os filmes foram divididos em três eixos.
No primeiro, destacamos filmes que tratam de uma memória coletiva da ditadura. São eles:
Paula: a história de uma subversiva (1979); Pra Frente Brasil (1982); Ação entre amigos
(1998) e Cara ou Coroa (2012). O segundo eixo é constituído por filmes baseados em romances
memorialistas e biografias, que são: Lamarca (1994); O que é isso companheiro? (1997);
Batismo de Sangue (2004); Zuzu Angel (2006) e Marighella (2021). No terceiro e último estão
os filmes baseados em depoimentos biográficos: Que bom te ver viva (1989); Araguaya:
conspiração do silêncio (2004) e Torre das Donzelas (2018). A partir dos estudos discursivos
derivados da fortuna teórica de Michel Foucault, buscamos pensar com o autor sobre o cinema,
em sua materialidade, e em seguida, como lugar de memória, espaço este que além de
memórias, é constituído de poderes, de saberes e de verdades. Assim, como sugere sua
arqueogenealogia, buscamos verificar não apenas a constituição destes enunciados em relação
à dispersão temporal, mas também suas relações microfísicas com o poder e as formas que estas
relações de poderes afetam as constituições das subjetividades e das verdades. Isto nos
possibilita um estudo que não apenas pensa nos acontecimentos dispostos em cena, mas nas
condições de possibilidade que permitiram a emergência destes enunciados e não de outros em
seu lugar. Em suma, estas reflexões nos possibilitam um olhar para a história do presente em
sua complexidade e metamorfoses, além das ações de necropolíticas do esquecimento, visto
que a extrema direita brasileira vem agenciando estas memórias à morte.
Palavras-chave: Cinema brasileiro; Ditadura Civil-Militar; método arqueogenealógico; lugar
de memória

ABSTRACT
Brazilian cinema was and still is a place of countless artistic manifestations, given that it is a
real space, which can open itself up to others, and it is also a heterotopia. (FOUCAULT, 1967).
Said space is composed of images, sound and movement, which makes it possible to reconstruct
memories that were scattered by the dynamics of modern life. By rearranging these memories,
cinema recodes them, especially concerning films which address moments of crisis in Brazilian
society, such as the civil-military dictatorship. Thus, cinema becomes a place of resistance and
of (re)telling memories that were forbidden for 21 years. Therefore, we aim, with this thesis, to
understand Brazilian cinema as a place of memory (NORA, 1993), where the forms of
resistance to dictatorship seek refuge and reconstruction, observing, hence, the operating
strategies (remembrance and oblivion) of this materiality. In order to fulfill this main goal, we
were led: to analyse cinema in its concreteness and the reconfiguration of the memories of the
dictatorship; to map the forms of resistance to dictatorship that appear in Brazilian cinema; and
to understand the positions that revolutionaries must occupy in the resistance. Our corpus
consists of films that have the resistance to the dictatorship as their main theme, and they were
divided into three groups, according to their approach to memory, due to methodological
reasons. In the first one are films that address the collective memory of dictatorship: Paula: a
história de uma subversiva (1979); Pra Frente Brasil (1982); Ação entre amigos (1998) and
Cara ou Coroa (2012). The second one is composed of films based on memoirs and
biographies: Lamarca (1994); O que é isso companheiro? (1997); Batismo de Sangue (2004);
Zuzu Angel (2006) and Marighella (2021). The third and last one comprises films based on
biographical statements: Que bom te ver viva (1989); Araguaya: conspiração do silêncio (2004)
and Torre das Donzelas (2018). With the support of the discursive studies derived from Michel
Foucault’s theories, we have tried to think about cinema in its concreteness, and next, as a place
of memory, a place composed of memories, but also of knowledge and truth. Therefore, as his
archeogenealogy suggests, we seek to analyze not only the constitution of these utterances with
respect to temporal dispersion, but also its microphysical relationships to power, and how these
power relations affect the construction of subjectivities and of truth. Said approach makes it
possible not only to think about the events depicted in the scenes, but also about the conditions
which allowed these utterances, and not others, to exist. In conclusion, these considerations
allow us to look at present history in all its complexity and all its changes, going beyond the
actions of the necropolitics of oblivion, which has recently been causing the death of memories
by the hand of Brazilian far right members.
Kewords: Brazilian cinema; civil-military dictatorship; archeogenealogic method; place of
memory.

RÉSUMÉ
Le cinéma brésilien est et a été le théâtre de nombreuses manifestations artistiques, tant qu’il
est une hétérotopie (FOUCAULT, 1967). Cet espace se compose d’images, sons et
mouvements, étant donc possible de reconstruire les souvenirs dispersées par le dynamisme de
la vie moderne. En réorganisant ces souvenirs, le cinéma devient un lieu de recodage de la
mémoire, en particulier lorsqu’il s’agit des films qui traitent des temps de crise de la société
brésilienne, comme c’est le cas de la dictature civile-militaire. Ainsi, le cinéma devient un lieu
de résistance et de raconter les souvenirs qui ont été interdits pendant 21 ans. Donc, cette thèse
a comme objectif de comprendre le cinéma brésilien comme um lieu de mémoire (NORA,
1993), où les résistances à la dictature se réfugient et se reconstruisent, faisant remarquer les
stratégies de fonctionnement (souvenirs et oublis) de cette matérialité. Pour atteindre cet
objectiv, nous allons: analyser le cinéma dans sa matérialité et les reconfigurations des
souvenirs de la dictature; cartographier les formes de résistance à la dictature qui émergent dans
le cinéma brésilien; comprendre les positions qui doivent être occupées par le sujet
révolutionnaire. Notre corpus est composé des films qui ont la résistance à la dictature pour
sujet principal, et a été divisé selon l’approche des souvenirs, pour des raisons
méthodologiques. Les films ont été divisés en trois axes. Le premier contient des films qui
abordent la mémoire collective de la dictature: Paula: a história de uma subversiva (1979); Pra
Frente Brasil (1982); Ação entre amigos (1998) et Cara ou Coroa (2012). Le deuxième se
compose des films basés sur des romans et biographies: Lamarca (1994); O que é isso
companheiro? (1997); Batismo de Sangue (2004); Zuzu Angel (2006) et Marighella (2021).
Dans le troisième sont les films basés sur des témoignages biographiques: Que bom te ver viva
(1989); Araguaya: conspiração do silêncio (2004) et Torre das Donzelas (2018). À partir des
études discursifs de Michel Foucault, nous avons essayé de réfléchir sur le cinema, dans as
materialité, et ensuite, comme un lieu de mémoire, un espace constitué de souvenirs, et aussi
de pouvoirs, savoirs et vérités. Alors, selon la suggestion de la archéogénéalogie de l’auteur,
nous cherchons à vérifier pas uniquement la constitution de ces enoncés par rapport à la
dispersion temporale, mais également ses rapports microphysiques avec le pouvoir, et comme
ces rapports affectent la constructions des subjectivités et des vérités. Cela nous permet de
penser aux événements sur les scènes, et en plus aux conditions qui ont facilité l’irruption de
ces enoncés, et pas celle d’autres à sa place. En conclusion, ces réflexions rendent possible de
regarder l’histoire présente, dans as complexité et ses métamorphoses, en dehors des actions de
la nécropolitique de l’oubli, pourvu que l’extrême-droite brésilienne essaie d’effacer ces
souvenirs.
Mots-clés: Cinéma brésilien; dictature civile-militaire; méthode archéogénéalogique; lieu de
mémoire.
Tipo Defesa-Doutorado
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APG 2.0
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